Elizabeth, Ministra da Defesa

Como o histórico do meu site se perdeu, segue de novo este post antigo


Morcego, você venceu!!!

Resolvi aceitar o convite que me foi feito, para assumir o Ministério da Defesa, por amor a pátria e dever cívico, assumo as minhas responsabilidades agora como pessoa publica.

A minha posse foi meia monótona, um cerimonial chato, cheio de oficiais antigos, olhando com uma cara meia desconfiada, afinal a pouco mais de uma década nem estudar no ITA eu podia por ser mulher, mas agora, cá estou, ministra da defesa tomando posse.

Noto as mulheres dos meus oficiais generais das três forças, conversando entre si o tempo todo, já sei, estão falando mal de mim e reparando na minha roupa, só pode ser!

Deixa pra lá, o sexo feminino é assim mesmo, vamos ao discurso de posse, que é o que interessa.

Minha linha de ação, explicada no meu discurso de posse, estará centrada em cima de algumas macro estratégias que considero fundamentais para o MinDef no Brasil.

  • A redução gradual e segura dos custos com pessoal ativo e inativo, sem incorrer na violação de direitos adquiridos e valorizando a profissão do militar dentro do novo ambiente democrático.
  • A abertura do dialogo com a sociedade Brasileira sobre um novo modelo de defesa, mais adequado as nossas necessidades e limitações.
  • A re-adequação operacional das FA’s diante do novo cenário mundial e sul continental dos últimos 15 anos.
  • A transição suave e segura para instituições civis de áreas chaves como infra estrutura aérea, marítima e as real separação entre temas militares e de segurança interna.

No outro dia, compro todos os principais jornais do Brasil, para ver os comentários sobre as propostas que defendi.

Parede que a Sandy anunciou que esta grávida, isto roubou a cena nos jornais brasileiros naquela segunda feira, não saiu nada em destaque, apenas uma meia coluna no meio do Caderno 1 de alguns jornais.

Mas tudo bem, vamos trabalhar, é ate melhor um começo low-profile.

O meu primeiro pilar, isto é a redução gradual dos custos. A idéia é simples. Meta de economia de 1% ao ano com pessoal, cortando a entrada de novos militares.

Se 80% do custo é com pessoal e 20% com custeio, e considerando que a carreira média é de 30 anos, então temos 3,3% do efetivo entrando a cada ano. Cortando 33% do volume de entrada a cada ano, temos 1% de economia com pessoal, o que dá 5% de aumento com custeio. Em 20 anos eu dobro as verbas de custeio.

Para cortar 33% do volume de entrada a cada ano, tenho que cortar tudo que não é primário nas FA’s. Assim vou fechar as juntas de serviço militar entre outras instalações militares.

O novo sistema é mais simples, o jovem vai ao correio preenche um formulário dizendo se quer servir ou não, e o envia pelo correio.

Uma empresa licitada para isto, digita os formulários, e manteremos um cadastro único, tal qual o previdenciário e fazendário. Podemos nos dar ao direito de em não atingir o numero mínimo de recrutas necessários, chamar uma cota dos que decidiram não servir.

Mas o sistema novo é mais simples, não existe mais carteira de reservista, apenas um status de “Em dia com as obrigações militares”que será unifico com o da justiça eleitoral e com a Fazenda. Assim o cidadão terá em apenas um cadastro, seu status eleitoral, fazendário e militar.

A economia projetada parece boa, são muitas juntas militares e muitos tenentes batedores de carimbo em carteira de reservista, livre para fazerem outras coisas.

Sou surpreendida por um telefonema da casa civil dizendo que a licitação para a empresa de processamento de dados, tem que ser ganha por uma empresa carioca que o filho do presidente é sócio, e o ministro da casa civil é que vai intermediar o negocio.

Também queria criar o “PreviMil”, fundo de previdência dos militares, que a médio prazo começaria a tirar do orçamento do MinDef um pouco do peso das pensões. Novamente sou avisada pelo planalto, que o presidente do “PreviMil” seria um ex sindicalista ligado a CUT indicado pelo Luiz Gushiken.

Bem, decidi não ser cúmplice disto, tudo e esqueci este plano de redução gradual de despesas de pessoal, vou me focar no segundo pilar, que é um processo de comunicação mais direto e honesto com a sociedade civil sobre a temática de defesa.

Surgiu uma oportunidade ótima para começar, fui convidada pelo programa Roda Vida da TV Cultura para uma entrevista ao vivo.

O pessoal da Cultura teve a sensibilidade de convidar os melhores jornalistas brasileiros no tema para me entrevistar. Estavam lá o Roberto Godoy, o Pedro Paulo Resende, Roberto Lopes, Ricardo Bonalume, alem dos editores das principais revistas tal como ASAS, T&D, S&D.

Uma bancada de gente experiente e conhecedora do tema, eu estava adorando a idéia de termos duas horas de um grande debate sobre defesa.

O programa começou em alta temperatura. Simplesmente já no começo da entrevista, os jornalistas ali reunidos começaram a lavar a roupa suja entre eles, quem escreveu o que sobre o outro, quem plagiou a idéia do outro na época em que eram da mesma redação.

Durante o intervalo, ai as coisas foi para as vias de fato, maior porradaria.

O pessoal de duas revistas que falam de Defesa ficaram trocando uns insultos sobre um negocio de ser patrocinador da LAAD, parece que um era, agora é o outro, rola um ciúmes, que não entendi direito.

O editor de uma delas me procurou no meio da confusão perguntando se meus contatos com o governo russo não o ajudariam a receber um dinheiro que parece que prometeram pagar e não pagaram por uma matéria encomendada. Ele ainda desabafou: “Eu só falo sobre a Rússia na minha revista e é assim que me tratam”,um de outra revista gritou indignado no meio da confusão: “Liga não colega, até os franceses com quem eu trabalho já foram melhor nisto, a crise ta feia pra todo mundo”

A coisa parece que foi tão seria que o Roberto Lopes saiu de ambulância, e seus agressores, outros dois jornalistas da velha guarda foram a um DP prestar esclarecimentos.

Sem poder continuar o programa, o diretor, colocou no ar a reprise do programa passado onde Beth Carvalho explicava porque não pode desfilar na mangueira este ano. Parece que a entrevista da Sambista deu o dobro de audiência do que tava dando o primeiro bloco de entrevista com a ministra da defesa.

Este negocio de comunicação com o povo, é complicado mesmo, talvez seja por isto que em lugares como Rússia e China, não se fala muito com a imprensa, estou convicta que já que os pilares da redução de custos de pessoal e transparência de comunicação não iam bem, eu devo ir direto a questões operacionais.

Eu estava convencida que era necessária botar a mão em temas sensíveis como por exemplo a interrupção da operação de asa fixa na MB que tem tido resultados muito fracos operacionalmente e que refletem no resto da esquadra.

Fiz uma longa apresentação, demonstrando que a aviação embarcada em marinhas médias, teve dois momentos distintos.

Um primeiro quando os cerca de 10 Nae da Classe Colossus e demais classes que sobraram nos anos 40 e 50 compunham soluções simples onde Brasil, Argentina, Holanda, Canadá, Índia e Austrália puderam ter o “Nae Próprio”, mas que estes sistemas só se tornaram disponíveis, porque EUA e Inglaterra precisavam de Nae muito maiores para suportar a crescente sofisticação dos jatos embarcados.

E que neste clube dos paises médios, todos, um a um foram renunciando a operação embarcada por falta de recursos para ter um Nae adequado as novas necessidades já que os custos começaram a crescer.

Um segundo momento acontece com o conceito de V/STOL, que nasceu na RN, mas que teve programas mais adequados as nossas necessidades na experiência de Espanha e Itália.

Porem que no caso destes paises só se tornaram viáveis por estarem dentro do âmbito da OTAN e terem industrias navais competitivas para executarem seus projetos.

O Brasil esta preso ao conceito de velhos Nae dos anos 60 que a maioria já renunciou e não tem competitividade naval para executar um programa de Nae como Espanha e Itália já o fizeram, ou como Índia e China estão a fazer.

Apesar da clareza dos fatos, a reação do almirantado não foi muito favorável a um plano de aposentadoria da asa fixa, com uma possível janela de volta a este tema depois de 2020 quando concluirmos a construção das novas escolas, o que teria nos dado maior consistência em industria naval, coisa que regredimos nos últimos 15 anos salvo na área de submarinos que evoluímos muiito.

Pelo que senti, o A-12 na minha gestão seria um sapo que eu teria que engolir, por pura “Política institucional da MB”.

De volta a Brasília e com um sapo de 32.000 ton na garganta, voltei a estudar o problema.

A idéia seria um conceito que vi pela primeira vez em Israel no final dos anos de 1990. Chama-se: “Orientação por capacidade necessária”.

A idéia é simples. A IDF pergunta que capacidade militar precisa ter e as lista em ordens de prioridade. Se a necessidade é ter digamos 200 F-16 na linha de vôo, então se orienta o investimento para tal, e as prioridades abaixo disto são postergadas.

Isto explica por exemplo, porque eles tem F-15, F-16 e treinavam com Piper Cub e Folga Magister, porque o foco era manter a capacidade desejada.

Entenderam o conceito?

Na minha versão tupiniquim desta filosofia, se a MB desejava manter um Nae, então compraríamos 12 caças F-18 modernizados, e teríamos os F-5 e A-1 transferidos de Santa Cruz para o norte do Brasil e planalto central.

A idéia era que em São Pedro da Aldeia houve-se pelo menos 2 F-18 em alerta ao invés de 2 F-5 em Santa Cruz. Agora os F-5 estariam em Anápolis com a saída dos F-103 e os A-1 na Amazônia.

Então ao invés de comprar 12 caças cobrir o gap do GDA teríamos 12 caças na MB que seriam usados para o Nae e para a defesa aérea.

Ganharíamos flexibilidade militar.

Expliquei o conceito ao meu comandante da aeronáutica.

Não vi uma reação muito favorável. Ele me explicou que a maioria dos oficiais de Santa Cruz, já estão ambientados ali, já tem seus apartamentos na cidade do Rio de Janeiro, e alguns suas modestas casas de campo em Teresópolis, e que sair dali e ir para o interior do Brasil não era uma opção agradável para eles.

Também explicou sobre a enorme tradição dos esquadrões que ali estão, e toda a importância histórica daquilo para a FAB.

Ele deixou claro que não tinha nada contra a região norte do Brasil, ele mesmo pilotou muitos aviões na sua época do CAN em toda aquela região, e que poderíamos ao invés de levarmos F-5 e A-1 para a região, operar os aviões C-295 e C-212 que seriam segundo ele a melhor escolha.

Eu me sentia como se estive-se em pleno governo JK, era odiada pela Marinha e pela FAB por causa da questão da asa fixa na aviação naval. No EB também já não era bem quista por causa da proposta de mudança no serviço militar com o fechamento das juntas.

Não tinha muito apoio dentre meus comandantes chefes de cada força.

Justamente naquela semana, tumultuada, um foguete explode em Alcântara e 21 pessoas morrem.

Durante a noite tomei uma decisão. Iria recomendar ao senado a formação de uma comissão independente de investigação. Tal qual acontece nos EUA e na Rússia este tipo de comissão é um importante elemento de auto critica do programa como um todo, gerando elementos de mudança das políticas espaciais.

Para minha surpresa, os responsáveis pelo lançamento, que são exatamente as pessoas que devem ser investigadas, formam uma comissão eles próprios dentro do CTA para investigar o caso.

No governo, preocupado com a reforma ministerial, no congresso com algumas CPI’s pegando fogo, não sou ouvida.

Nas universidades publicas, tradicionais celeiros de pessoas e idéias, não consigo nem uma dúzia de doutores para formar a dita comissão independente, porque elas estão a 60 dias em greve, a exemplo do que fazem todo ano letivo.

Sem poder fazer absolutamente nada de concreto no caso do foguete, tenho que esperar o relatório que não chegou a conclusão alguma e meses depois ainda é recomendada a promoção do brigadeiro chefe do lançamento que matou 21 pessoas.

Olha, eu acho que sou uma ministra em processo de fritura, meus comandantes militares fazem o que querem, e o presidente não quer se envolver muito com isto, no congresso dizem que a pessoa que melhor conhece o assunto é um tal de Aldo Rebelo, me sinto desmotivada, e resolvo usar a estratégia do meu antecessor, Valdir Pires, isto é, cruzar os braços e não fazer porcaria nenhuma.

Agora eu entrei no esquema!!!

Toda sexta feira pego um avião do GTE e vou de Brasília a Florianópolis, onde volto na segunda depois do almoço. Os nordestinos que me desculpem, eu acho as praias de lá maravilhosas, mas tenho um caso de amor por Santa Catarina.

Só que agora sou uma pessoa publica.

Já não posso fumar em local publico para não ser fotografada, até um dos meus pequenos prazeres que é tomar uma caipirinha de vodca debaixo do guarda sol enquanto minha filha brinca na areia não é mais possível, porque um jornalista cretino escreveu que sou uma bêbada porque tomei 3 copos de caipira durante a manha de sábado na Joaquina.

Naquele final de semana desgraçadamente eu usava um biquíni com as cores verde na parte de cima e amarela na parte de baixo, engordei de anciosa nos últimos meses, e nem a parte de baixo servia mais com a parte de cima do mesmo biquíni.

Fui fotografada e sai na capa da Revista Contigo:

“Ministra da Defesa bebe vodca compulsivamente, embriagada vai a praia com biquíni nas cores da bandeira”.

A imprensa só fala nisto, finalmente consegui a atenção que não tive no plano de redução de efetivos, no debate do Roda Vida ou na crise do VLS.

Capa da Folha e do Estadao, porque o comando da aeronáutica que quer o meu fim, deixou vazar que estive 10 vezes em Florianópolis e que nos 10 vôos o piloto do avião era o mesmo.

As revistas sensacionalistas começam a especular que estou tendo um caso com o rapaz, que é casado. Quando na verdade o motivo dele voar pra mim, é que ele tem família na cidade e aproveita para passar o final de semana com eles.

Agora estou arruinada.

Mãe solteira, bêbada, amante de homem casado, usa biquíni nas cores da bandeira. Sou achincalhada em todos os programas de TV, na Ana Maria Braga, nas piadas do Jô Soares na coluna do José Simão.

Humildemente resolvo renunciar ao meu cargo para preservar a minha família.

Decido voltar para onde eu trabalhava antes, voltar a fazer as mesmas coisas as 12.000Km de distancia.

Em meu livro de memórias escrevo que mesmo durante esta fase difícil como ministra no Brasil eu jamais derramei uma lagrima de choro mesmo nos momentos mais difíceis, já no exterior costumo chorar pelo menos 4 vezes por ano, no parágrafo seguinte explico.

É que toda vez que assisto um lançamento, a claridade da combustão do foguete, somado ao seu barulho ensurdecedor e as ondas de choque que fazem seu peito tremer como se estivesse em algum lugar de som muito alto, normalmente me lacrimeja um pouco os olhos, quando isto se soma a emoção que tenho quando vejo um deles subir, isto é fato, eu choro mesmo e não tenho vergonha de esconder.

É por gostar de chorar algumas vezes por ano é que dificilmente voltaria a trabalhar no Brasil.

Sentiria falta deste meu choro sentimental.

Acidente VLS

Hoje eu ouvi um professor me falar que o acidente da VLS foi sabotagem. Resolvi postar mais uma mensagem da Elizabeth Koslowa sobre este assunto


Respondendo a um colega em outro fórum, sobre o acidente com o VLS

A resposta, dita a rigor seria grande demais, mas vamos simplificar. Como eu já tinha escrito antes sobre o tema varias coisas, vou compilar algumas mensagens antigas e desenvolver alguns temas.

Existem 3 momentos distintos que podemos analisar.

  • Ações que poderiam ter evitado a tragédia
  • Ações que poderiam minimizar o numero de vitimas
  • Ações que poderiam evitar novos acidentes, determinar responsáveis, esclarecer fatores chaves.

Nestes 3 grupos existiram muitas coisas erradas, vou citar algumas que foram ignoradas pela comissão oficial.

Antes do acidente

Quando o primeiro VLS falhou. A causa foi um dispositivo chamado DMS – Dispositivo mecânico de segurança – que é um sistema que transmite a onda de choque do detonador para o motor. O DMS tem um pino se segurança que se não for retirado não permite o ignitor acender o motor, mesmo que o ignitor se inflame. É análogo a um pino se segurança de um assento ejetor.

No segundo lançamento em diante o pessoal do CTA retirou o DMS do projeto, fazendo uma espécie de “ligação direta” entre ignitor e impulsor.

Se você muda um procedimento de segurança, reduzindo a proteção para a falha catastrófica, deveria no mínimo rever todos os procedimentos de segurança associados. Simplesmente tiraram o DMS e não fizeram nenhum esforço em procedimentos de segurança para compensar o risco extra assumido.

Porque ao retirar o DMS não foi revista a questão de manuseio e montagem dos ignitores?

Com o DMS, ou com praticas de montagem dos ignitores somente no ultimo instante de preparação para lançamento a tragédia não teria acontecido.

No momento do acidente

Eram 21 pessoas na plataforma, realizando atividades diferentes. A coisa só não foi pior, porque alguns estudantes da UNOPAR, uma universidade do norte do Paraná que tinham um experimento que era carga útil do foguete, chegaram a Alcântara e pelo calor estavam de bermudas, ai não puderam visitar a plataforma naquele dia, escaparam por pouco.

Vou falar um pouco sobre plataformas de lançamento, para que entendam um pouco o fantasma que ela representa no mundo espacial.

Até o acidente de 1960 quando um R-16 explodiu matando mais de 120 pessoas na plataforma de lançamento na URSS, o trabalho de plataforma era visto como arriscado, mas aceitável deste que com alguns cuidados.

Depois da catástrofe de Nedelin, alem da revisão de procedimentos, o numero de pessoas em plataformas caiu bastante. Houveram outros acidentes em plataformas, tanto na URSS quanto nos EUA. A NASA nos anos de 1960 perdeu umas 10 pessoas em acidentes de plataforma ou montagem final de foguetes em uns 3 acidentes.

A URSS continuava a perder gente em plataformas em maior numero. Entre 1970 e 1980 foram mais de 50 pessoas em pelo menos 2 acidentes. Mas porque números elevados ainda?

A questão estava associada ao projeto dos foguetes, que não previam muitos níveis de automação nas operações de plataforma que antecediam o lançamento, no final dos anos de 1970 tudo isto foi revisto, e a Rússia NUNCA MAIS perdeu gente em plataforma até 2002 onde a causa primaria foi a vitima ter saído detrás do abrigo de concreto para apreciar a visão do lançamento.

Nos anos de 1980 e 1990 a quantidade de acidentes diminuiu nos EUA e demais paises, paises e felizmente o numero de vitimas também caiu, dificilmente mais de 2 pessoas em 3 ou 4 acidentes em todo o mundo neste período.

Nos anos de 1990 em diante, tivemos o acidente na Guiana Francesa com 2 vitimas, o de 1996 na China com um numero de mortos controverso mais superior a 50 e o acidente de Alcântara com 23 pessoas.

Todos que trabalham com foguetes olham a plataforma com olhos diferentes, deve ser a mesma visão que os tripulantes que operam no convés de vôo e um porta aviões tem da catapulta. Eu já estive em uma dúzia de plataformas no instante intermediário, que começa com o foguete montado e a força elétrica ligada, porem com o foguete não abastecido.

Existem 3 maneiras de evitar acidentes em uma plataforma.

1- Projetando a plataforma segura, com saídas fáceis, projeto racional de malhas elétricas e de fluidos.
2- Reduzindo o numero de pessoas simultâneas na plataforma
3- Treinando as operações em um foguete make-up

No VLS nenhuma das três coisas foram feitas.

Só para que tenham uma idéia de como isto é serio, na plataforma do Space Shuttle por exemplo, se alguém que estiver no topo dela precisar sair daqui rapidamente, existe um cabo de aço que conduz a uma espécie de tirolesa que amarrado a cintos especiais tira a pessoa do topo até um abrigo ante chamas no solo.

Por serem altas e cheias de ferragens, sair de uma plataforma é algo complexo.

A plataforma de Alcântara tinha vários erros.

Não tinha rotas de fuga

Era um tipo de plataforma móvel, seu sistema de aterramento era questionável, segundo testemunhas falaram a imprensa dias após o acidente, o foguete deu choque elétrico em algumas pessoas dias antes.

Outro aspecto importante existem 4 tipos de plataformas.

Integração horizontal
Integração vertical com transporte vertical à plataforma
Integração vertical na plataforma
Integração horizontal (usada no VLS)

Ela foi escolhida no foguete brasileiro, por questões de transporte entre a região sudeste e Alcântara. Como a base de lançamento não tem infra estrutura portuária (esta sendo construída agora), o VLS é mandado por estágios para o Maranhão, dentro de aviões C-130.

O VLS pesa cerca de 49.000Kg, o que exige pelo menos 3 viagens de Hercules, que acabam sendo mais, devido a necessidade de descolar toda a “tralha” necessária a operação de lançamento.

Ao chegar no Maranhão as partes são verticalizadas dentro da estrutura móvel de montagem que “abraça” o foguete e a plataforma.

Este tipo de montagem tem algumas vantagens que uma operação de integração horizontal, a principal é que o foguete de quase 50.000Kg não precisa ser verticalizado, e isto é complicado, porque o VLS é um foguete de combustível sólido, em um foguete de combustível liquido como o da foto ele é verticalizado vazio, quando pesa “apesar” 32 toneladas, de modo que o Soyuz é mais facilmente “colocado em pé” que o VLS.

Existe um outro problema no caso do VLS que são seus 4 boosters laterais, é muito difícil colocar um foguete naquela configuração na vertical, porque os esforços estruturais na junção booster com o corpo central danificam o envelope.

Se montar o VLS na horizontal não era uma boa idéia, sobra a idéia de integrá-lo em um ambiente separado e levá-lo por trilho até a plataforma ou montá-lo diretamente na plataforma.

Fosse ele um projeto americano ou europeu a idéia de montagem fora da plataforma talvez ganha-se força, mas no caso brasileiro a infra estrutura de Alcântara é pequena então optou-se pela montagem em plataforma.

Vantagem da escolha do CTA:

Estrutura de montagem + lançamento mais enxuta do que a montagem em prédio separado

Desvantagens

Expõe demais equipes de montagem e processos de preparação para lançamento, já que são lógicas diferentes, isto foi uma das causas do grande numero de vitimas.

Para que tenham uma idéia, em Jiuquan no lançamento da Shenzhou-5, o numero de pessoas na plataforma não poderia ser maior que 8, na Shenzhou 6, ficou travado em 12 dado a maior necessidade de suporte para dois tripulantes.

Outra desvantagem considerável que não esta presente em outros paises que ja adotaram a montagem vertical em plataforma, mas graças a um erro de avaliação do CTA esta presente no VLS é a integração foguete + satélite na plataforma.

Quando se realiza este procedimento, passa a ser necessária então uma sala limpa no topo da plataforma para que a integração do satélite com o foguete e o fechamento da coifa seja realizado em um ambiente limpo.

Normalmente se utiliza sala limpa apenas em vôo tripulado, porque existe a necessidade de embarque do astronauta de um ambiente “sujo” para um ambiente “limpo” (interior da nave), deste modo é necessário um espaço de transição no auto da plataforma na forma de uma sala limpa.

Em lançamento de satélites, o conjunto satélite + coifa é montado já lacrado no topo do lançador.

Na CRD – Critical Review Design do VLS realizada aqui na Rússia, se bateu pesado na questão de integração.

Vejam um outro exemplo que colocaria de cabelos em pé algum chefe de equipe de plataforma, Russo, Americano, Europeu ou Chinês.

Os últimos estágios do VLS são compostos pela coifa, satélite, quarto estágio e depois as baias de controle e de instrumentação.

Tudo isto é empilhado por meio de ponte rolante, içado parte a parte para dentro da torre móvel, e não é raro algum operador, liberalmente “meter a mão” dentro de compartimentos sensíveis onde ficam sistemas como o inercial e conectorização de malhas pirotécnicas, eu li casos nos relatórios, em que se enfiava a cabeça e as mãos dentro do corpo do foguete para fazer alguma operação, isto tem um potencial enorme de criação de problemas, especialmente de impurezas (cabelo, suor e pequenas peças) bem como de destruição de conectorização e choques de ferramental para com componentes.

Em qualquer outro sistema de montagem, os componentes satélite + coifa + quarto estágio + baias de controle de instrumentação, chegariam todos já integrados e testados a plataforma de montagem final.

Coisas absurdas como a montagem do INS no local, são exemplos gritantes da falta de preparo deste pessoal.

Este tipo de escolha realizada por um misto de inexperiência e falta de recursos para melhoria da infra estrutura de integração e testes necessárias para o perfeito recebimento do foguete em Alcântara é um enorme ofensor do que é hoje o principal problema do VLS que é a política de QPA Quality Process Assurance absurdamente relapsa que o CTA implantou no programa.

Eu formalmente não tive participação no processo de CRD realizado na Rússia, na época estava trabalhando na China, mas tive acesso ao processo posteriormente e colaborei com algumas recomendações, as coisas presentes no cenário de operação do VLS eram bastante incompatíveis com a boa pratica de projeto e operação de foguetes.

Depois do acidente.

Isto é o mais importante, o que citei acima, já aconteceu na Rússia, na aconteceu nos EUA, já aconteceu na China com roteiros diferentes, mas errar não é uma exclusividade do CTA. Porem o que aconteceu depois, o acobertamento o corporativismo, isto sim, é o mais sério disto tudo.

Vamos aos fatos.

A comissão de investigação não era independente e chegou a 2 relatórios, um publico e outro reservado, ambos com teor um bocado diferente.

Durante as investigações não havia garantia de que o relatório seria publico, o que mudou com a pressão da imprensa.

A comissão nunca chegou a causa exata da ignição, o pretexto era que não haviam meios físicos de investigação com o estado final do foguete de da plataforma.

Esta história de que “não existia meios materiais depois da
destruição da torre” que desse suporte a investigação é conversa pra
boi dormir.

Primeiro que poderia muito bem se reconstruir em laboratório toda a malha eletrica no momento do lançamento. O que fizeram os ingleses
quando o Comet começou a explodir em pleno voo de forma misteriosa?

Eles reconstruiram as condições do acidente em terra até achar a
causa exata.

No caso do VLS, realmente é verdade que nem para construir um foguete existem recursos, quanto mais para investigar de forma adequada o problema.

De qualquer forma, o que é inconsistente na investigação não é o pouco empenho em se descobrir a causa exata, e sim o enfoque que se deu a investigação da tragédia.

Quando uma sonda como a Beagle-2 ou Mars Polar Lander some misteorisamente e não existe meio material nenhum para a investigação como ela se procede?

Basicamente revisa todos os procedimentos associados ao projeto, fabricação e operação da sonda. Sem se preocupar com a causa exata do acidente, a investigação detecta todas as falhas do ciclo de gestação do programa indentificando aquelas mais provaveis para a falha.

Ponto que a comissão deveria ter pego e fez vistas grossas.

Porque ao retirar o DMS não foi revista a questão de manuseio e montagem dos ignitores?
Com o DMS, ou com praticas de montagem dos ignitores somente no ultimo instante de preparação para lançamento a tragédia não teria acontecido.

Existia um histórico de falhas de até 40% em lançamentos de foguetes de sondagem e lançadores de satelites, manufaturados pelo CTA. Isto apareceu em um documento de engenheiros do programa, que foi encaminhado a imprensa, basicamente este pessoal estava descontente com os caminhos da investigação.

Como se investiga um acidente, sem relacionar situações anteriores de falhas? Como se ignora sonelemente um numero elevado de falhas na casa de 40%?

A comissão de invesgitação ignorou o passado.

Situação de negligencia 3

Qualquer relatório de investigação de acidentes desta natureza esta baseado na emissão de recomendações para prevenção de novos acidentes.

Na primeira e na segunda falha houveram recomendações para prevenção de acidentes, muitas delas não cumpridas.

A terceira invesgitação também fez as suas recomendações como é praxe.

Pergunta basica? Se voce esta emitindo recomendações e esta fazendo isto pela terceira vez, para um projeto que teve até então 100% de falhas.

Porque não analisa os motivos das recomendações ja emitidas a anos atrás não terem sido cumpridas.

A comissão sonelemente ignorou o total descumprimento das recomendações dos 2 relatorios anteriores e emitiu a sua lista de recomendações ignorando que elas pelo historico anterior também não seria cumpridas.

Elas são algumas das situações de negligencia que esta comissão viciada e corporativista do pessoal do CTA realizou, poderia listar uma duzia delas se tivesse mais tempo para escrever…..

Relatório Reservado – 21 Vidas de Alcantara

Mais Elizabeth abaixo. Vocês se lembram quando ocorreu o acidente da TAM e alguns dias depois os diretores da ANAC receberam condecorações da Aeronáutica? O que aconteceu com o responsável pelo lançamento do VLS?


Um colega em outro forum, mandou este link com imagens de um acidente com um foguete chines tempos atrás.

Abaixo um comentário meu sobre o assunto.

Este acidente de 1996 foi um divisor de aguas no programa espacial chines, ele causou cerca de 50 vitimas. Também não foi o começo do programa Longa Marcha, o primeiro lançamento destes foguetes aconteceu em 1970, até hoje cerca de 104 deles já foram lançados.

As causas deste acidente estão associadas a um erro de programação da referencia inercial do foguete durante a contagem regressiva.

A doutrina de segurança do programa espacial chines é uma das melhores atualmente, a conheço bem.

Um ano antes, em 1995, um acidente na plataforma de lançamento em Kourou matou 2 pessoas

Em 2001 tivemos a morte de um técnico nos EUA por acidente na plataforma de lançamento.

Os EUA não perdiam gente em acidentes na plataforma de lançamento desde 1981 durante a operação de preparação de lançamento da primeira missão do Space Shuttle.

Nestes 2 acidentes, o de 1981 nos EUA, 1995 na Guiana Francesa, aconteceu um dos maiores perigos dos foguetes movidos a hidrogenio liquido, que é a Hypoxia. Como o hidrogenio é muito pouco denso, e sempre vaza mesmo em pequenas quantidades, muitas regiões do foguete são “irrigadas” com nitrogenio, que expulsa o hidrogenio e oxigenio da região (normalmente perto dos impulsores e das valvulas de controle) durante a fase de contagem regressiva. Paralelo a isto, são necessarios trabalhos de inspeção nestas regiões, trabalho que as vezes tem que ser feito pelo olho humano, e ai a tragédia acontece, pessoas inspessionando areas onde existe baixa concentração de oxigenio, e alta concentração de nitrogenio.

Em 2002 um lançador Soyuz não tripulado, explodiu pouco após deixar a plataforma em Plessetsk, matando um jovem soldado de 20 anos que fazia a guarda perimetral da area de lançamento, e descumpriu os procedimentos de segurança que ditam ficar atrás de uma proteção de concreto durante a decolagem, o jovem soldado se expos para visualisar a decolagem do foguete.

Além do acidente do VLS, estes foram os ultimos acidentes envolvendo pessoal em terra na presença do foguete lançador.

Acidentes sem vitimas são mais comuns, a propria China perdeu um CZ-1D, a Rússia chegou a perder 4 lançamentos em 2005, de um total de mais de 40. Os acidentes com foguetes americanos também aconteceram, embora eu tenha mais facilidade para me lembrar de cabeça dos acidentes russos e chineses.

A média normalmente é perder um a cada 25 ou 30 dependendo do foguete.

A questão não é perder foguetes, isto acontece, a questão é o que fazer quando isto acontece.

A 2 anos na Russia haviam problemas crônicos de segurança em uma base de lançamento em especial, o problema não eram os foguetes e sim os processos, o presidente Putin pessoalmente cobrou dos seus agentes espaciais soluções para isto. Em 90 dias tudo estava resolvido, com a mobilização de todos os envolvidos no programa espacial, era uma epoca que se trabalhava 14 horas por dia para revisar todos os processos, no final do ano estava pronto, a Russia lançou 8 foguetes entre lançadores e misseis balisticos, de 3 bases diferentes, em apenas uma semana, todos com sucesso, validando todos os procedimentos novos de segurança. Putin recebia relatorios diarios sobre os trabalhos, e cobrava pessoalmente resultados.

Quando a NASA perdeu seu ultimo onibus espacial, 50 pessoas em cargos de diretoria e alta gerencia perderam os empregos nos meses seguintes.

Quando o VLS explodiu, ninguem perdeu o emprego, o brigadeiro que comandava a operação de lançamento ganhou uma promoção tempos depois.

O relatório oficial do VLS nunca apontou a verdadeira causa do acidente. Existe outro relatório reservado com teor dirente do oficial. A FAB era contra a formação de uma comissão indepentente.

Nunca ninguem foi condenado pelas 21 vidas perdidas em Alcantara.

De volta…

O tellEsfera ficou fora do ar durante um tempo, o meu antigo provedor (routhost) perdeu o site, o meu banco de dados, os comentários etc. Foi uma briga para transferir o domínio. Infelizmente não tem PROCON nestes casos e o dono do site não tinha backup.

Mas, o Google Reader tinha todos os posts 🙂 Ou seja, de vez em quando eu posto algo antigo aqui.

Enquanto eu me recupero, fiquem com este excelente vídeo do Monty Python: