Eu não acredito em Salvador

Eu não acredito em Salvador como mercado. Acreditar em Salvador como mercado é se contentar com menos de 1% do PIB brasileiro. Eu não gostaria que nossos líderes empresariais e políticos se satisfizessem com 1% do PIB brasileiro.

Vemos muita discussão sobre balança comercial nacional ou estadual. A diferença do que exportamos e importamos.  Eu nunca vejo a mesma discussão para a esfera municipal.

E podemos, para o planejamento da nossa cidade, fazer uma analogia com o que aconteceu entre China e Brasil. Em 1978, a China tinha 1 bilhão de habitantes e o Brasil tinha 100 milhões de habitantes. Teoricamente, o mercado interno da China era 10 vezes maior que o brasileiro.

De lá para cá a economia brasileira cresceu 12 vezes e a chinesa, 45 vezes. Não se pode atribuir esta performance ao regime autoritário existente naquele país, pois o regime autoritário existe desde a Revolução de 1949. E de 1949 até 1978 a China não foi reconhecida pelo seu crescimento econômico.

A diferença essencial é que a China, a partir de 1978, foi orientada a competir globalmente para conquistar mercados externos. É a mesma lógica que foi utilizada pela Coréia do Sul. Os chineses e os sul coreanos não confiaram no mercado interno. E é a mesma lógica que devemos aplicar na nossa cidade.

Temos que pensar que o Brasil é um mercado externo a ser alcançado, que devemos exportar para o Brasil tendo Salvador como base de produção.

Caso não tenhamos este racional, da mesma forma que algumas indústrias brasileiras foram dizimadas com a entrada de concorrentes chineses, empresas maiores, com ganhos de escala vindo do resto do país, irão pressionar o nosso mercado local.

Neste sentido, eu não desejo uma reserva de mercado criada e sustentada pela prefeitura de Salvador ou pelo governo do Estado. Ambos podem ter um papel interessante gerando demanda qualificada: contratando de empresas locais produtos e serviços que possam posteriormente ser exportados. Não comprar o lugar comum, comprar o futuro.

Desta mesma forma, eu desejo que sejam incentivadas e atraídas empresas que tenham receita fora da cidade e injetem este dinheiro na nossa economia, contratando gente aqui e demandando serviço local. Isso pode tornar nossa economia mais forte e sofisticada. Não faz sentido dar desconto de ISS para empresas que tem um mercado eminentemente local ou já competitivas. É um incentivo fiscal sem lógica.

A atitude da prefeitura de incentivar a cultura e criar um calendário de festas é um excelente primeiro passo. Amplia a permanência do turista na cidade e aumenta a demanda por novas visitas. Cultura e turismo em Salvador são produtos internacionalmente competitivos e que estão mal explorados. É a primeira etapa de uma possível reinvenção da estrutura econômica da cidade.

Coluna publicada no Bahia Notícias em 11/Abril/2014

O fim do WhatsApp, NetFlix e Skype

A forma como você usa a internet, o peso do acesso no seu bolso e o futuro da rede é assunto de uma das atuais batalhas entre o Poder Executivo federal e o Congresso Nacional. É uma parte do Marco Civil da Internet: a neutralidade da rede.

Atualmente, no Brasil, seu provedor de internet não bloqueia seu acesso a um determinado conjunto de serviços, nem pode tornar o uso de uma rede social pior que outra. Isso é neutralidade da rede: significa a inexistência de discriminação sobre o que se trafega. A neutralidade da rede não está relacionada com a velocidade contratada.

A empresa de telecom deve ter o direito de cobrar de forma diferenciada por ofertar uma internet mais rápida ou mais lenta. Se cair a neutralidade você poderá contratar 10 Mb de internet que não permite acesso a um serviço como Skype. De acordo com a neutralidade, depois de contratado um serviço de internet com uma determinada velocidade, o seu uso não deve ser discriminado. Foi este princípio que tornou a internet o berço de tanta inovação nos últimos 20 anos.

É por causa da neutralidade da rede que empreendedores, no mundo inteiro, podem ter ideias inovadoras sobre como usar a internet. Mas será que algum empreendedor teria motivação para inovar sabendo que a empresa de telecom poderia, a qualquer momento, bloquear o serviço que ele criou? Ou seja, o fim da neutralidade da rede também implica o desincentivo para o surgimento de novos e inovadores serviços.

Caso a neutralidade caia, no futuro você poderá comprar um pacote de dados da sua operadora de telefonia celular sem WhatsApp, pagando mais barato, ou com WhatsApp, pagando mais caro. Poderá ficar limitado a um serviço de filmes próprio da sua operadora de internet residencial ou pagar um pacote adicional para ter acesso ao YouTube. Talvez nem possa mais fazer uma chamada via Skype/Viber ou Hangout para um parente no exterior.

O Marco Civil da Internet afeta diretamente seu estilo de vida. Como o deputado que você colocou no Congresso vai tratar deste assunto?

Coluna publicada no jornal A Tarde em 19/Mar/2014 

Qual deve ser o futuro do Ginga?

Na minha empresa de ticketing recentemente fizemos uma experiência de desenvolver alguns protótipos funcionais para venda de ingressos na TV Digital. As plataformas escolhidas foram a Ginga ( https://en.wikipedia.org/wiki/Ginga_(middleware) ) e HTML5 + Javascript (que estava começando a ser embarcado nas TVs na época em que iniciamos o projeto).

Em primeiro lugar, este post é para debate: o que vou escrever aqui é a minha visão – limitada – sobre o assunto.

Depois de alguns meses eu me pergunto para que lado vai o Ginga. Ao mesmo tempo em que uma equipe de duas pessoas trabalhava para entregar um protótipo com funcionalidades mínimas, um engenheiro de frontend na plataforma HTML5 fez 2 protótipos (LG e Samsung) e revisou um destes protótipos para ficar compatível com as duas TVs (algo semelhante ao mundo Chrome x Firefox x Safari x Internet Explorer). Se eu quiser modificar a aplicação Ginga, eu sei que vai ser um parto. O ambiente de desenvolvimento e o SDK não ajudam. Se eu pedir para modificar o HTML5, uso toda a infraestrutura atual de frameworks para web (ferramentas e bibliotecas)

Se eu quiser publicar minha aplicação, tenho um marketplace da LG ( http://br.lgappstv.com/appspc/main/main/main.lge?lang=por_BR ) e outro da Samsung ( http://www.samsung.com/uk/tvapps/ ). Se eu quiser publicar minha app Ginga, qual o marketplace que eu coloco? Existe mais um ponto: se eu desenvolvo uma app para a TV nas plataformas mundiais, terei um mercado potencial mundial; mas se eu desenvolver para o Ginga ficarei somente com o Brasil.

E olhando o cenário mundial ele tende a ficar mais competitivo e complicado. Uma pequena amostra do que está ocorrendo:

O mercado não está escolhendo o Ginga. Este é o fato.

O que devemos pensar é se esta iniciativa – o Ginga – ainda faz sentido e como adaptá-la aos tempos atuais. Não adianta olharmos números de devices com o Ginga instalado se absolutamente ninguém usa. Devemos olhar alguma métrica de adoção. O percentual de tablets Androids não corresponde ao tráfego que eles geram. As pessoas compram tablets Android e ninguém sabe onde são usados, pois majoritariamente o tráfego que é observado nos sites vem de tablets Ipad.

Esta situação me faz lembrar de um paper recente do Marcos Lisboa e Zeina Latif, a que tive acesso via o blog do Mansueto Almeida.

Nele os autores discutem alguns itens que cabem neste debate (aproveitando a análise do Mansueto):

  1. No Brasil, há um número crescente de mecanismos (“políticas públicas”) que beneficiam grupos organizados específicos às custas da sociedade. Não se trata aqui de corrupção. Se trata de várias políticas de elevado retorno privado e custo social difuso.
  2. Um dos problemas da democracia brasileira é ainda a elevada falta de transparência e de “accountability”
  3. Como medir o benefício destas políticas públicas para a sociedade?

Então, com este cenário. Qual deve ser o futuro do Ginga? E utilizando o Ginga como exemplo, qual deve ser a abordagem no Brasil para avaliação de políticas públicas?

Neste caso específico acredito que o governo deva pensar como um Venture Capitalist. O mercado adotou a tecnologia? Funcionou? Ok, vamos em frente. Não funcionou? Mudou o contexto? Mata o projeto e vamos relocar o dinheiro em algo mais promissor ou em outra fronteira tecnológica.

Finalmente. Eu não sou contra terem desenvolvido o Ginga. Eu acho correto ter sido desenvolvido e tenho certeza que muita gente  de qualidade foi formada no processo, o meu questionamento é sobre o futuro da plataforma e se ainda vale a pena continuar investindo.

Notas – Livro / Movimento Maker

Recentemente li o livro Makers do Chris Anderson o que me fez escrever este post.

O aparecimento de impressoras 3D, padronização no formato de arquivos 3D, colaboração no design via internet, comércio via internet, ferramentas gratuitas de modelagem 3D, novas formas de financiamento, makerspaces [hackerspaces] está permitindo uma nova geração de makers (fazedores) e uma nova geração de empresas de manufatura.  É a revolução que já aconteceu na indústria de impressão, música e vídeo chegando aos produtos físicos.

 

  • Empreendedor x Inventor – O inventor antes não tinha capacidade de produção do seu invento, isso está mudando.
  • Internet está popularizando as ferramantes de produção física
  • Popularização das ferramentas de produção
    • Impresso
    • Música
    • Vídeo
    • Produtos físicos
  • Produtos se tornam descrições eletrônicas, quem podem ser compartilhadas, melhoradas, enviadas para uma impressora 3D, máquina CNC ou uma fábrica. Existe uma linguagem única que descreve “G – Code”. Existem sites que compartilham coisas para serem fabricadas ( http://www.thingiverse.com/ http://www.123dapp.com/Gallery/ http://en.wikipedia.org/wiki/G-code). Existem ferramentas gratuitas que permitem a qualquer um projetar algo e produzir ( Autodesk, PTC, 3D Systems. O mesmo processo de melhoria colaborativa que existe nos produtos digitais está sendo transportado para produtos físicos.
  • Produtos físicos estão se descrições em arquivos digitais. Você pode desenhar um brinquedo e mandar via email para ser impresso em outro local.
  • “Hardware is becoming much more like software” – Eric Von Hippel – MIT
  • Nestes softwares, o botão de “Print” é substituído pelo botão de “Make”.
  • Automação vai aumentar é a única forma de competir em custo com mão de obra barata. O que muda é o acesso a novos meios de produção para pequenas manufaturas, com produtos focados e que pode escalar para complexos industriais completos.
  • A grande oportunidade é ser pequeno e global. Você pode fabricar e vender para qualquer local do mundo.
  • Mercado de massa para produtos de nicho. Produtos não precisam chegar a escala de milhões para se tornarem globais. Podem ser focados, vendidos via internet na casa de dezena de milhares.
  • Proliferação de makerspaces. Espaços de produção compartilhados (Techshop é um deles). Shangai está construindo uma centena deles (http://www.engadget.com/2011/11/12/shanghai-science-and-technology-commission-proposes-100-innovat/ ). Em NYC existem oito já em funcionamento. Um programa do DARPA quer levar 1000 destes espaços para as escolas americanas, aprender fazendo – http://blog.makezine.com/2012/04/04/makerspaces-in-education-and-darpa/http://blog.makezine.com/2012/01/19/darpa-mentor-award-to-bring-making-to-education/ – Na Inglaterra – http://www.fablabmanchester.org/ – Ver o projeto Fab Lab do MIT.
  • Etsy – Marketplace para venda de produtos manufaturados – 500 milhões de dólares em vendas em 2011.
  • KickStarter – Site de crowdfunding. O empreendedor publica um projeto com um objetivo de arrecadação e um valor do produto. Se o objetivo é alcançado em 30 dias o valor é debitado do cartão do cliente e transferido ao empreendedor. Resolve três problemas para os empreendedores:
    • Financia a produção
    • Transforma os clientes em uma comunidade. Comprando no KickStarter você está apostando em um projeto e a maioria das pessoas publicam este fato no timeline do twitter / facebook. Estas pessoas colaboram efetivamente no projeto avaliando, divulgando etc.
    • Pesquisa de mercado – cada projeto tem um objetivo de arrecadação. Se não alcança este objetivo o projeto não é executado.
  • O Reilly, editora tradicional na captura de tendências tecnológicas, publica uma revista (Make) desde 2005, faz uma feira em San Mateo com mais de 100 mil pessoas, tem um site (http://makezine.com/) com loja, blog etc alavancando e catalizando este movimento.
  • Redução do custo de entrada na manufatura para algo próximo do que existe para a criação de sites.
  • A geração atual de impressoras 3D tem que ser comparada com a primeira  geração de impressoras a laser
laserw1985 – LaserWriter – US$ 7.000 – 300Dpi hp-atual2012 – HP1102w – US$ 160,00 – 1200 Dpi
makerbot2012 – MakerBot Replicator 2 – US$ 2.200,00

O que vai acontecer 27 anos depois?

  • A impressora a laser revolucionou o mercado de publicações, permitindo a qualquer pessoa ter um impresso de qualidade gráfica. Foi o início da indústria de Desktop Publishing.
  • Você não precisa mais deter os meios de produção, você pode alugá-los.
  • Início de uma indústria que permite você imprimir produtos via Internet. Se você tiver um cartão de crédito, terá acesso a impressoras 3D de altíssima qualidade ou imprimindo em materiais [ainda] não acessíveis para o grande público – Ponoko, Imprima 3D (BR)
  • Importância do Design – Facilitando a produção, o diferencial reside no Design. Tem que ensinar a usar as ferramentas e como se diferenciar ensinando Design. Tem que ensinar ajudar a popularizar estas novas ferramentas.
  • Estas técnicas permitem a produção de lotes personalizados ou individuais. Prototipação e depois se necessário e o mercado responder, massificação usando meios de produção mais tradicionais.
  • Impressão 3D hoje não permite competitividade para larga escala, mas permite que cada peça única seja feita.
  • A indústria de PC’s atual foi originada no Homebrew Computer Club, quais indústrias podem ser criadas ou reinventadas agora?
  • 3D Robotics – de uma rede social no Ning até uma indústria de US$ 5 milhões em 2 anos. Markup de 2,3x
  • “give away the bits, sell the atoms”
  • Open R&D usando a comunidade em volta do produto. Como remunerar os maiores colaboradores? Badges, dinheiro, produto etc. Location 1581 – Gráfico Hierarchy of Reward.
  • A única defesa neste modelo é um ecossistema que se auto-alimenta. Além disso não pode usar o mesmo nome [relativamente frágil]
  • Hazy – PhD Student – começou clonando, acabou colaborando no projeto principal.
  • Local Motors – constrói uma plataforma de carros que outros podem desenvolver melhorias. O sistema de desenho colaborativo ganhou a competição “Experimental Crowd-derived Combat Support Vehicle (XC2V)” do DARPA
  • Nova fábrica da Tesla Motors (inovadora fábrica de carros, com modelos puramente elétricos e uma rede de recarga gratuita baseada em energia solar) é altamente baseada em robôs flexíveis. Não existem máquinas especializadas. No começo da computação os computadores eram especializados, hoje são genéricos e mudam de comportamento baseado em software. Os robôs da fábrica não substituíram postos de trabalhos humanos, estes robôs permitiram construir uma fábrica competitiva abrindo novos postos de trabalho.
  • Ronald Coase – Empresas existem para minimizar custos de transação.
  • Bill Joy – “no matter who you are, most of the smartest people work for someone else” – para minimizar os custos de transação, não trabalhamos com os melhores.
  • Hayek – Conhecimento está distribuído de forma desigual e estruturas centralizadas de planejamento não conseguem capturar este conhecimento distribuído (free markets conseguem)
  • Friedman – NYT – “It used to be that only cheap foreign manual labor was easily available; now cheap foreign genius is easily available”
  • BGC custo liquido de manufatura na China deve equiparar com os EUA em 2015.
  • Custo do trabalho na indústria automotiva – 15%
  • Com aumento da automação o custo de mão de obra diminui de importância em relação a proximidade do consumidor, transporte, flexibilidade, qualidade e confiança.
  • SFMade – San Francisco Made
  • Dependendo da escala pode fazer sentido produzir na china ou nos EUA – Location: 2288
  • Sparkfun – US$ 30 milhões – 50% crescimento/ano – Boulder – kits eletrônicos
  • Desktop Jellyfish Tank, aquários para aguas vivas – US$ 3.000 como objetivo no KickStarter. Em 30 dias levantou US$ 130.000 de 330 pessoas.
  • Pebble, relógio integrado com smartphone – US$ 100.000 como objetivo no KickStarter. Em 3 semanas arrecadaram US$ 10 milhões com o pedido de 85.000 relógios. Durante o processo de 3 semanas a equipe modificou o relógio de acordo com o feedback da comunidade adicionando bluetooth 4.0, a prova de agua etc.
  • TikTok+LunaTik – pulseira para transformar o ipod nano em um relógio de um ex-diretor criativo da Nike. Levantou US$ 1 milhao no KickStarter.  Já entregou mais de 20.000 pulseiras.
  • JOBS Jumpstart Our Business Startups – crowdfunding para participação em empresas. Será regulado pelo SEC. Em processo de estudo / aprovação.
  • Quirky – Designers submetem idéias de produtos que a Quirky fabrica e compartilha os royalties. O designer tem uma idéia mas não sabe produzir para colocar no KickStarter. A comunidade vota os produtos que devem ser produzidos. (crowdsourced market research) A Quircky tem acordos com lojas como Bath, Bed and Beyond etc. Toda semana entra dois produtos em produção.
  • Etsy –  US$ 65 milhões/mês, 300 funcionários. Site de venda de artesenato de altíssima qualidade.
  • BrickArms – Lego não fabrica armas para os seus brinquedos. Os filhos de Will Chapman queriam reproduzir uma batalha da segunda guerra mundial. Ele foi na oficina com uma máquina de CNC, criou os moldes e injetou os brinquedos para os fihos. Virou um negócio e a própria Lego instruiu como deixar os brinquedos mais seguros (ex: furos para evitar sufocamento no caso da criança engolir). Em 2008 ele deixou o emprego e toca somente a BrickArms. Fabrica tudo nos EUA, pois tem certeza que se mandar os moldes para serem injetados na China, será roubado (irão usar os moldes para fabricar itens adicionais e colocar no mercado). Ele atende um mercado que a Lego não quer (política) ou não pode (volume) atender, aumentando o valor do ecossistema Lego. Long tail da Lego. O acesso a uma máquina de CNC de US$ 1.000,00 mais a web para vender permitiu a criação desta empresa que talvez não pudesse existir a 10 anos atrás.
  • Square – empresa de pagamentos – Início em Maio/2010, processa US$ 10 bilhões em pagamentos por ano. O dispositivo Square foi prototipado em uma TechShop. O sócio McKelvey realizou a prototipação pessoalmente para entender o processo de fabricação, prós e contras antes de terceirizar para larga escala.
  • MFG.com – Sistema de procurement para indústria. Você envia o RFQ (Request for Quote) com os arquivos de engenharia  e as empresas concorrem para fabricar o seu produto ou protótipo. A Blue Origin (empresa aeroespacial de Jeff Bezos, dono da Amazon), usou o serviço, gostou, trouxe o Bezos para analisar que comprou uma participação dois meses antes da Dassault. 200.000 membros, 50 países, 115 bilhões transacionados / ano.
  • Shanzai – bandit – “um fabricante ou comerciante que opera um negócio sem observar as regras ou práticas tradicionais normalmente resultando em produtos ou modelos de negócios inovadoras e incomuns”. Fazem 250 milhões de celulares por ano, cópias de iPhones ou Androids. São os fornecedores dos celulares com dois ou três chips. http://en.wikipedia.org/wiki/Shanzhai
  • DIY Bio – a próxima fronteira é biotech
  • Where Will the Jobs Come From?  – Renascença da manufatura nos EUA

grf2

grf1

 

  • O tipo de solda que é feito nos estados unidos precisa de conhecimento de matemática – soldador é STEM (Science Techonology, Engineering, Math) hoje.
  • Existe uma aposta no aumento da produtividade da manufatura, em um movimento semelhante a da agricultura nos EUA
  • Foxconn na China já está migrando de gente para robôs. – http://news.cnet.com/8301-1001_3-57549450-92/foxconn-reportedly-installing-robots-to-replace-workers/?part=rss&subj=news&tag=title
  • That is not to say college education will not be useful, but it is increasingly going to have to be an education that has a focus and goal of a marketable skill.
  • NASA planeja imprimir partes do próximo foguete pode incentivar tendência de manufatura.
  • http://labdegaragem.com/ – começa a se formar uma rede de fornecedores no Brasil, com a idéia de laboratório de garagem.
  • MakerShow – marketplace de fábricas – http://makersrow.com/ – mais focada na indústria de confecção.
  • Indiegogo – semelhante ao KickStarter – http://www.indiegogo.com/spuni
  • http://printrbot.com – impressora 3D – 350 dólareshttp://www.scientificamerican.com/article.cfm?id=why-3d-printing-matters – Matéria na Scientific American – Aposta do governo dos EUA neste movimento – Why 3D Printing Matters for ‘Made in USA’ – The federal government plans to increase funding to institutions researching 3D printing, a technology the White House hopes will boost U.S. manufacturing

Que venham os imigrantes.

Já comentei aqui anteriormente sobre a preocupação dos EUA na sua capacidade de retenção de talentos. Antes um bom percentual dos melhores cérebros do mundo iam para os EUA fazer cursos de pós graduação e posteriormente 80% destes ficavam por lá, GERANDO RIQUEZA LÁ.

Neste texto “America’s Secret Innovation Weapon: Immigration” o autor tem uma lógica extremamente simples para incentivar a imigração. Considerando que os físicos das 25 melhores universidades nos EUA estão dev 3 a 4 desvios padrões em inteligência acima da média (use o critério que quiser, SAT , QI etc), estamos falando de pessoas que ocorrem na proporção de 1/5.000 ou 1/10.000 em relação a população.

Então os EUA tem na sua população nativa algo em torno de 60.000 pessoas com estas características, porém no mundo existem algo em torno de 1.28 milhões.  Não criar mecanismos para atrair estas 1,28 milhões é no mínimo burrice. Não se esqueçam: É UMA BRIGA POR CÉREBROS.

E estas pessoas não irão concorrer com os empregos tradicionais. Elas estão imigrando atrás de uma categoria de empregos que não existe no local de origem delas. O desafio é criar no local de destino [brasil? bahia?] este tipo de emprego que normalmente vem atrelado a muita riqueza.

Caso umas 10.000 destas pessoas queiram vir ao meu estado, eu não estou preocupado em perder o meu emprego. Eu estarei mais preocupado em me alinhar com as oportunidades que irão aparecer com tamanho fluxo de capacidade. Não é mais do mesmo é algo NOVO.

Power to the people – Shanzai

Uma vez escrevi um texto chamado Power to the people (aqui). Nele comento a queda no valor dos meios de produção, permitindo uma nova classe de trabalhadores criativos.

Vi hoje no blog do Bunnie (já comentei dele antes aqui em uma coluna para o Forum PC´s) uma matéria sobre um movimento na China chamado Shanzai. Eles são rebeldes, individualistas, underground e auto-empregados. São eles que fazem estes celulares com dois sim-cards, celular com TV, cópias de iPhone etc etc etc. Grupos de algumas dezenas até algumas centenas. Alguns altamente especializados em pontos específicos da cadeia de produção. Um grupo de 250 produz 200.000 celulares/mês com um grande mix na produção (Toyota rulez)

Leia a matéria, eu sempre me perguntei a origem destes eletrônicos sui generis que vemos em locais como Santa Ifigenia, 25 de Março, Feiraguai etc. A parte mais importante e interessante da matéria é:

“I always had a theory that at some point, the amount of knowledge and the scale of the markets in the area would reach a critical mass where the Chinese would stop being simply workers or copiers, and would take control of their own destiny and become creators and ultimately innovation leaders.”

A china alcançou uma massa crítica de conhecimento, acesso a meios de produção, oferta de mão de obra, conhecimento e matéria prima que permite iniciativas como esta. Se o caldo de cultura estiver correto, o próximo silicon valley pode aparecer lá.

Leia o posto do Bunnie em  Tech Trend: Shanzai. Leia os comentários, veja a discussão de Bunnie com outras pessoas sobre o modo de produção (fábrica no andar superior, loja no térreo), custos de produção etc.

Veja mais ChinaTology, parece que a Wired vai sair com uma matéria sobre o assunto.

Falhas de mercado e o financiamento a invenção (inovação)

Eu sempre me surpreendo com alguns documentos que eu encontro nos EUA tratando de politica pública em ciência, tecnologia e inovação. “Economic Welfare And The Allocation of Resources For Invention” do Kenneth Arrow da RAND Corporation, tratava em 1958 do financiamento a invenção.

Ele em primeiro lugar define invenção como um processo de produção de informação. Com esta definição ele divide o problema em dois:

  • A análise do risco do processo de produção da informação (sucesso ou não);
  • As características econômicas do bem “informação”.

O processo de produção de informação é extremamente arriscado. Qualquer companhia vai tentar mitigar o risco. Uma forma de você eliminar um risco é comprar um seguro. Como ninguem financia seguro para  insucesso de pesquisa e desenvolvimento, as empresas não podem se defender deste risco, logo os gestores vão alocar recursos não ótimos ao processo de inovação. Trazendo para a nossa realidade que você tem um ativo para investimento sem risco  com retorno de 13% ao ano (dobra o capital em cada 5/6 anos), quem vai investir em algo tão incerto como inovação?

O produto da inovação é informação. Como se apropriar da informação de forma que você possa comercializá-la? Patentes, copyright etc. Neste ponto o autor discute vários aspectos interessantes sobre a informação que hoje é corrente na discussão de patentes ou software livre. O autor fala que do ponto de vista econômico a melhor decisão é distribuir a informação gratuitamente, pois o custo de distribuição marginal é zero (gente, ele falou isso no meio da guerra fria, nos estados unidos, isso é quase comunismo 🙂 ). Ele discute o problema de como remunerar a pessoa que correu o risco na descoberta desta informação. Ele discute que possivelmente o único meio do detentor da informação manter propriedade é mantê-la em segredo e usá-la em um processo fabril dentro da própria organização ( se eu descrevo em uma patente, eu dou a pista de como chegar lá… ). Discute a indivisibilidade da informação e por causa disso como medir a contribuição dos outros na criação deste novo pedaço de informação “standing on the shoulder of giants“. Todos os argumentos normalmente usados pelo pessoal de open source, contra as patentes etc etc etc está lá. (e todos a favor também… o cara me parece ser honesto intelectualmente… sem muitos dogmas…)

De posse destes dois elementos ele conclui que o setor privado nunca vai alocar parcelas ótimas de capital no financiamento da inovação e parte para discutir como o setor público pode alocar recursos. O processo de financiamento da inovação com base em custo, financiamento da indústria militar americana etc etc etc também esta lá.

Sempre me surpreendo com a qualidade deste tipo de documento na formulação da política pública americana. Recentemente achei este blog. É do diretor do comitê do orçamento do congresso americano. Ele descreve a audiência sobre o orçamento de saúde nos EUA. E destaca o seguinte:

A growing body of research on behavioral economics suggests that, in addition to financial incentives, norms and default options can exert a strong influence on individuals’ choices. Such findings could inform efforts to improve efficiency in the health sector.

  1. Quantas vezes você já ouviu falar que uma comissão do senado brasileiro ouviu alguem para tomar alguma decisão relevante? E que este depoimento estava público?
  2. Quantas vezes você já viu nestes depoimentos alguem mencionar uma têndencia de pesquisa acadêmica para subsidiar uma decisão de politica pública?

Nunca? Nem eu.

Bola pra frente…

Não vamos colocar o carro na frente dos bois…

Matéria da The Economist citando um estudo do Banco Mundial.

“The World Bank’s researchers looked at 28 examples of new technologies that achieved a market penetration of at least 5% in the developed world, and found that 23 of them went on to manage a penetration of over 50%. Once early adopters latch onto something new and useful, in other words, the rest of the population can quickly follow. The researchers then considered 67 new technologies that had achieved a 5% penetration in the developing world, and found that only six of them went on to reach 50%. That suggests that although new technologies are often adopted by a small minority of people in poor countries, they then fail to achieve widespread diffusion, so their benefits do not become more generally available.”

Ou seja,  para a maior parte dos casos, é mais importante colocar professor bom dentro da sala de aula do que computador na mão de aluno. É mais importante chegar agua potável do que internet sem fio etc. O uso de novas tecnologias depende da instalação de infra estrutura antes.

O poder do telefone celular para combater a pobreza

Tem dois anos que um amigo indicou-me uma conferência nos EUA chamada TED. Depois deste dia tive uma oportunidade única de assistir excelentes palestras. Eu tenho outra sorte. Eu tenho amigos (Roberto Pinho – As Coisas) que inventam umas idéias malucas e eu topo. Traduzir alguns vídeos do TED. São vídeos que consideramos que devem ser vistos aqui no Brasil. Que injetam novas idéias e fazem a gente refletir.

O vídeo não está perfeito, vcs vão dar risada de alguns trechos, mas a idéia principal está clara. Quem quiser ajudar pode colaborar de duas formas. Se achar relevante, ajude a espalhar a mensagem do vídeo. Se achar um vídeo do TED que você ache importante, ajude a traduzi-lo. O primeiro que a gente traduziu foi o do Iqbal Qadir:

“O poder do telefone celular para combater a pobreza”

Qual a razão da pobreza continuar existindo apesar das décadas de ajuda internacional? Nesta palestra, Iqbal Qadir explica: “esta ajuda internacional causa danos, pois amplia o poder das autoridades no lugar do povo” e advoca uma nova abordagem para desenvolvimento: “do povo para o povo”. Sua própria experiência como uma criança em Bangladesh e depois como um banqueiro em New York levou-o a realizar que “conectividade é produtividade” — e que um simples telefone celular tem um enorme poder. Hoje sua companhia de telefonia celular, GrameenPhone, oferece serviço para a maior parte da Bangladesh rural, criando novas oportunidades conectando vilas ao mundo.

Original em http://www.ted.com/index.php/talks/view/id/79

Paper Engenheiros x Advogados

Em resumo. Uma sociedade com mais engenheiros organiza melhor a produção, cresce mais e é mais rica do que uma de advogados. Veja o Brasil, tem mais faculdade de direito ou engenharia?

“The Allocation of Talent: Implications for Growth,” Murphy, Kevin M & Shleifer, Andrei & Vishny, Robert W, 1991. The Quarterly Journal of Economics, MIT Press, vol. 106(2), pages 503-30, May.

“A country’s most talented people typically organize production by others, so they can spread their ability advantage over a larger scale. When the start firms, they innovate and foster growth, but when they become rent seekers, they only redistribute wealth and reduce growth. Occupational choice depends on returns to ability and to scale in each sector, on market size, and on compensation contracts. In most countries, rent seeking rewards talent more than entrepreneurship does, leading to stagnation. Our evidence shows that countries with a higher proportion of engineering college majors grows faster; whereas countries with a higher proportion of law concentrators grows more slowly. Copyright 1991, the President and Fellows of Harvard College and the Massachusetts Institute of Technology.”

http://ideas.repec.org/a/tpr/qjecon/v106y1991i2p503-30.html